quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Via ascendente

A activação dos nociceptores está directamente relacionada com a localização e extensão dos tecidos lesados e traduz-se clinicamente por uma dor somática e/ou visceral.

A dor nociceptiva somática é frequentemente descrita como uma dor aguda, localizada, que muitas vezes se associa a contratura muscular; o exemplo mais característico deste tipo de dor é a que resulta de metástases ósseas.

A dor nociceptiva visceral é descrita como uma dor difusa e profunda. Esta dor pode resultar da distensão de órgãos maciços ou de vísceras ocas. Um bom exemplo é a dor provocada pela metástase hepática que distende a cápsula de Glysson.2

Como todas as outras sensações presentes num estado consciente, a percepção normal da dor (estímulo nociceptivo) depende de neurónios especializados que funcionam como receptores. Estes detectam o estímulo, transformam-no e conduzem-no ao sistema nervoso central. Torna-se necessário fazer referência a dois tipos de sensações: sensação epicrítica (não-nociceptiva) e sensação protopática (nociceptiva).

A sensação epicrítica (desencadeada pelo tacto, pressão, propriocepção e discriminação da temperatura) é caracterizada por receptores de limiares baixos e é geralmente conduzida por fibras nervosas grossas mielinizadas. Em contraste, a sensação protopática (dor) está relacionada com receptores de limiares altos e é conduzida por fibras nervosas finas, ligeiramente mielinizadas (A delta) e desmielinizadas (C).

Os receptores nociceptivos estão amplamente distribuídos pela pele, músculos, vísceras e ossos. Perifericamente, os tecidos lesados libertam neurotransmissores nociceptivos (substância P, bradicinina e outros) que despolarizam a membrana nervosa, gerando um estímulo nervoso que é reconhecido como dor.

As fibras A delta são fibras mielínicas (de 4 mm de diâmetro) que conduzem impulsos correspondentes a uma sensação aguda traduzida por dor fina, tacto e frio.

As fibras C, amielínicas (de 0,5 mm de diâmetro) encarregam-se do transporte de sensações mais grosseiras, traduzidas por dor difusa, tacto e sensações térmicas,


Tais estímulos são conduzidos até ao cordão posterior da medula, na área conhecida como substância gelatinosa (SG). Daqui, cruzam a linha média e fazem sinapse com um segundo neurónio (feixe espinho-talâmico) até ao tálamo, donde parte um terceiro neurónio directamente ao córtex cerebral,


Esquema da interacção das vias ascendentes e descendentes

Há, contudo, uma interligação entre a fibras finas e grossas de forma a controlar a sensação dolorosa. As fibras grossas inibem e modulam as fibras finas. Melzack e Wall denominam o que acabamos de referir como Teoria do Portão (gate control) Sob este ponto de vista a dor resulta da relação entre o potencial das fibras finas e o potencial das fibras grossas. Assim, desde que estejam aumentados os fluxos nociceptivos das fibras finas ou diminuídos os potenciais das fibras grossas, a dor manifesta-se.

Teoria do Portão de Melzack e Wall Krishman K R R, et al.

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